Segunda-feira, 28.11.11

 

Se no sábado a noite era reservada à música portuguesa, no domingo o mote foi o interculturalismo e a mistura. Quando entramos no São Luiz, bem perto da hora marcada para o início do espetáculo de Gamelão e Dança, o samba atrai-nos imediatamente ao Jardim de Inverno, onde chegamos quando um grupo brasileiro se despede perante aplausos efusivos de quem assistia. Depois de um compasso de espera, é o último grupo desta Festa Intercultural que sobe ao palco: um grupo de gospel sediado em Lisboa.

É com pena que assistimos ao primeiro tema, «Lord is Great», e mudamos de «poiso»: a Índia e o Pacífico, ali ao lado, chamam-nos, naquele que será o espetáculo de encerramento do Lisboa Mistura: o grupo lisboeta de gamelão - já lá iremos - YogistragOng, juntamente com a bailarina Lajja Sambhavnath, a Companhia de Dança Diana Rego e os grupo de intérpretes que habitualmente a acompanha prometiam uma Viagem Exótica para dizer adeus a esta sexta edição do festival. E conseguiu.

O espetáculo, dividido em sete peças, teve como peça central o gamelão, esse instrumento típico de Java, na Indonésia. Na verdade, é como que uma pequena (ou grande, claro está) orquestra de percussão, onde estão muito presentes os metais. Neste espetáculo, foram oito os intérpretes que nos presentearam com sonoridades particulares. As primeiras peças, muito tradicionais - e das quais sei pouquíssimo - foram sobretudo um deleite visual. O gamelão é espantoso, de facto, ocupando um lugar de destaque no palco, e as bailarinas deram uma nova dimensão a esta «viagem».

Sobre a sonoridade do gamelão, não me posso alongar. É quase como que uma série de metalofones e gongos, ritmados, numa harmonia que nem sempre o parece, mas que nos prende atenção do princípio ao fim. Mas não esqueço os intérpretes de tabla, sitar e bansuri, instrumentos que, apesar de exóticos, têm sonoridades semelhantes às dos ocidentais. Joana Amorim, naquela espécie de flauta que é o bansuri, presenteou-nos com alguns momentos absolutamente mágicos.

As últimas peças, chamadas «Lisboa-Porto» e «Café-Oriente» foram a mistura por excelência. A primeira, ainda com alguns toques muito tradicionais, foi acima de tudo um belo espetáculo de dança. A segunda, composta por César Viana (shakahachi), incluiu a viola (tocada por Natasha Tchitch) para pensar o gamelão como um instrumento como os outros, já amadurecido. Pensar no gamelão sem a sua carga histórica que leva os compositores deste instrumento quase sempre para sonoridades muito tradicionais, muito ligadas aos «clichés» do instrumento. Uma peça muito bem conseguida, que fechou bem um festival que tenta misturar culturas e artes, como é o Lisboa Mistura.



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Quinta-feira, 24.11.11

Porque a cena alternativa de Lisboa é muitas vezes digna de destaque, os sapos vão estar, este fim-de-semana, no Lisboa Mistura, no teatro São Luiz. A lógica do festival é a de aproximar culturas que, muitas vezes presentes no mesmo espaço - neste caso, na mesma cidade, - correm paralelas e sem se tocar. Este ano, o cartaz é dedicado a Marrocos, com a noite de sexta-feira preenchida por artistas daí oriundos: Hamid El Kasir será o primeiro a pisar o palco e, mais tarde no Jardim de Inverno, será a vez do DJ Azzedine Berhilia.

No sábado, as atividades começam à tarde e continuam pela noite dentro. O grande destaque não pode deixar de ir para o espetáculo que será proporcionado por Lis-Nave, um grupo formado por Samuel Múria e Márcia, Pinto Ferreira e Virgem Suta, especialmente projetado para este festival, que pretende «misturar» várias artes, artistas e proveniências.

O domingo, 27, será o culminar das experiências absorvidas nos dias anteriores, com a Festa Intercultural a abrir a tarde de encontros, com grupos provenientes do Brasil, Guiné, Índia e Ucrânia. Depois disso, ao espetáculo de Yogistragong, grupo que toca gamelão - o exótico instrumento de Java, Indonésia - vão juntar-se a bailarina Lajja Sambhavnath e elementos da Companhia de Dança Diana Rego, proporcionando um momento único que nos transporta numa viagem até ao Pacífico.

O Lisboa Mistura pretende ser um momento para o encontro de culturas e de artes, de pessoas, de mentalidades, num festival que apela à reflexão e à participação de todos os lisboetas - seja qual for a sua origem. Perante tal promessa, os sapos não podiam faltar.



publicado por Sarah Saint-Maxent às 18:34 | link do post | comentar

Terça-feira, 09.08.11

Algures nesta semana, vi os outros festivais descritos mais ou menos assim «um cartaz que começa ao fim da tarde e se arrasta noite dentro, com campismos que parecem campos de guerra e onde, a uma distância não percorrível a pé, se encontra algum spot onde passar as horas mortas - normalmente uma praia ou rio». O Andanças não é isto, e por isso a experiência Andanças deve ser cuidadosamente explicada - vou tentar fazê-lo, já no conforto do sofá e depois de uma noite dormida no colchão.

Uma das grandes valências do festival, e que não pude explorar grandemente por estar a trabalhar como voluntária durante o dia, são as oficinas de dança, workshops e actividades paralelas, bem como concertos na Igreja, que decorrem ao longo de todo o dia e que dão, depois, lugar aos bailes e espectáculos à noite. A escolha é tanta e tão variada que cada um dos participantes faz o seu próprio festival - daí dizer que a experiência Andanças é única e irrepetível -, moldando o seu dia aos gostos, curiosidades e apetites do momento.

A programação do Andanças está dividida em Oficinas de Dança, Oficinas de Relaxamento/Meditação, Oficinas Paralelas - que decorrem no espaço do carvalhal e têm sobretudo que ver com expressões artísticas, construção de instrumentos e aprendizagem de técnicas diversas -, Oficinas para Crianças - porque o festival é para todos! -, Salão, Igreja, Andamentos - uma espécie de mini-Andanças, que decorrem durante um dia numa aldeia da Serra - e os famosos Bailes e Concertos. A par desta programação da organização Pédexumbo, as sessões de improviso decorrem um pouco por todo o lado e a qualquer hora, pelo que nunca há uma hora sem qualquer coisa para fazer.

Esta programação, no entanto, é só uma parte do Andanças, que é uma experiência total: como tentar resumir o festival sem falar da famosa caneca? Para qualquer novato que chegue pela primeira vez a Carvalhais, uma das primeiras estranhezas é ver toda e qualquer pessoa com uma caneca presa às calças ou às malas. A caneca, que é já um marco, fez parte de um conjunto de medidas implementadas há alguns anos para tentar reduzir o impacto ambiental do festival, sobretudo no que toca à diminuição do lixo plástico; assim, qualquer bebida do festival será servida, sem qualquer excepção, na caneca do participante. Estão a ver aqueles recintos cobertos de copos de plástico no fim da noite, tão típicos em todos os outros festivais? Por ali não há disso - e é tão agradável.

A responsabilidade ambiental da organização é tão grande que há até uma equipa de voluntários preocupada exclusivamente com esse aspecto -  equipa Eco, responsável por pequenos aspectos visíveis um pouco por todo o lado, como a colocação de numerosos mini-ecopontos, pela lavagem de pratos, pela separação do lixo para compostagem... Uma preocupação que tem vindo a crescer com resultados cada vez melhores.

E se o Andanças se preocupa com o Ambiente, não se preocupa menos com a aposta no desenvolvimento pessoal e cívico - e daí os mais de 400 voluntários que «fazem» o Andanças, com - claro! - a promoção da música e da dança e, finalmente, com a Comunidade.

Um dos aspectos mais marcantes deste festival é precisamente a boa relação que mantém com os habitantes locais - sim, porque aqui vivem mesmo pessoas, não é um qualquer espaço ermo que só vê gente em 4 dias por ano - e da Serra em que está inserido. O festival seria outra coisa qualquer, aliás, se não tivesse assentado arraiais ali em Carvalhais, no ido ano de 1999.

 

 

A minha experiência Andanças, que dura há mais anos do que os que posso contar - desde 1997 - muda a cada edição. É uma semana de descoberta pessoal e artística que me permite crescer todos os anos, de forma diferente. As relações com o que me rodeia alteram-se a cada novo ano - e isso é resultado do ambiente e da própria música: sim, este é mesmo um festival de Verão.

 

Já ouvi várias pessoas dizerem «o Andanças é o meu Natal». O meu também: pelo reencontro, pela partilha, pela aprendizagem e pela alegria.



publicado por Sarah Saint-Maxent às 15:43 | link do post | comentar

A última noite do festival ficou marcada por uma diminuição drástica do número de participantes, provavelmente por se tratar da noite de domingo para segunda. Se, ao longo de todo o dia, era visível a quantidade de participantes que iam desmontando tendas e rumando à vida fora dali - sim, porque o Andanças é a semana em que todos nós temos outra vida, que não a nossa -, à noite não havia dúvida possível: o festival estava reduzido aos resistentes, aos que decidiram aproveitar todos os momentos e aos que ainda ficarão por ali mais uns dias.

 

 

Enfim, só o facto de a programação agendada terminar por volta das 2.00h era indício de que a noite não se prolongaria - normalmente, a programação está agendada até às 4h e a partir daí as jam-sessions duram até perto das 8h da manhã do dia seguinte -, o que se confirmou. Os Big Band Loureiros, de que já vos falei, foram responsáveis pela grande animação da noite. Numa espantosa demonstração de «poder de encaixe» a enorme banda arranjou espaço para todos num dos (bastante mais pequenos) palcos das tendas e deu um show para quem ainda lá ficou para apreciar a noite de domingo.

Depois disso, o fim: já eram poucos os músicos que por ali andavam de instrumento na mão, por isso a djam ficou reduzida a um punhado de percussionistas que batucaram noite fora, sem grande entusiasmo ou coordenação - excepto aquela causada pela cerveja e a bebida oficial do Andanças, o hidromel. Um bando de gatos pingados lá andavam a tentar arranjar animação, metendo-se com os conhecidos e desconhecidos que passavam e com os seguranças que rondam o recinto, mas nem isso permitiu manter os níveis de alegria.

É uma pena que um festival como o Andanças acabe por perder uma noite por acabar ao domingo: talvez uma das soluções passe por, como já se fez noutros anos, programar a semana de domingo a sábado, e não de segunda a domingo. Isso permitiria que mesmo quem trabalha na semana seguinte pudesse aproveitar até ao fim tudo o que este outro mundo tem para oferecer.

Fiquei, é certo, com pena de não poder aproveitar a última noite como me disseram que tinham sido as anteriores, mas não é isso que estraga a experiência de uma semana - continua a ser uma experiência única e irrepetível.



publicado por Sarah Saint-Maxent às 15:25 | link do post | comentar

A tenda 1 estava já cheia quando Sylvain começa a dedilhar a guitarra. A ele junta-se Aurélien, no acordeão, e temos o Duo Absynthe formado, pronto para 1.30h de música de qualidade na noite de sábado. É certo que esperava um pouco mais de música tradicional europeia, com as danças de roda a predominar, e saí de expectativas goradas, mas continuou a ser música cativante - estive pertíssimo de comprar o CD no final do concerto. A tenda encheu-se de pares que passavam, alternadamente, de scottish para mazurka, e depois para valsa... numa sequência que resultou bem para abrir a noite. A relação que os dois mantêm com o público, Sylvain pela expressividade e entusiasmo, Aurélien pela reserva e cumplicidade, já bem conhecidas pelo público do Andanças, ajuda muito a manter os participantes por ali. A subida ao palco de Sérgio e Tiago, percussionistas, ajudou ainda mais: o acrescento do som dos tambores elevou ainda mais a qualidade dos temas tocados.

É certo que, por mais entusiasmada que estivesse, não continuaria ali por horas a fio - daí o consumo de Absynthe com moderação -, já que faltavam aquelas danças animadas que aquecem as noites e madrugadas. O carácter intimista das danças a pares pode ser muito agradável nalgumas situações, mas por vezes começa a faltar a possibilidade de nos abanarmos sozinhos ou de trocarmos «de homem» a cada 40 segundos.

Infelizmente, as valsas foram o suficiente para acabar a noite mais cedo: um par mais animado, uma volta que correu mal e um tornozelo feito bola de ténis enviaram-me para a tenda no fim do espectáculo dado pelos franceses. Ainda assim, gostei da minha noite; no meio de uma semana de noitadas e festanços, faz bem ter uma que foge à regra.

 

 

Nota: O texto vem com atraso por motivos técnicos. Ainda assim, parece-me relevante incluí-lo nesta cobertura do festival deste ano.



publicado por Sarah Saint-Maxent às 14:49 | link do post | comentar

Sábado, 06.08.11

Ontem a noite foi curta, mas não por falta de qualidade dos artistas: o cansaço acumulado, esse sim, foi o responsável por uma ida precoce para a tenda. Ainda assim, pude presenciar um dos grandes momentos da noite, a actuação dos Big Band Loureiros no Palco Alto. Só a proeza de pôr quase uma orquestra inteira em palco no Andanças merece destaque mas, mais do que isso, foi o à-vontade dos músicos, aliado a um repertório de baile extremamente adequado ao espaço, resultaram numa performance incrível para abrir a noite.

Celina da Piedade subiu ao palco nalguns momentos e deu voz a temas tipicamente portugueses, dando um toque especial à actuação, já de si forte, da enorme banda - o que não é pouco habitual, já que são várias as vezes em que acompanha o grupo nos espectáculos programados.

Enfim, apesar do espaço em frente ao Palco Alto ser pouco propício a danças, todos os presentes bailaram, saltaram e cantaram, insistiram num encore e aplaudiram ruidosamente a Big Band.

 

 

Logo depois do final, chego ainda a tempo de ouvir a parte final do baile dado pelos Com'Tradições. Como dizê-lo? Foi um «show de pimba» de qualidade inimaginável. Todos os participantes que se encontravam na tenda se abanavam e pulavam ao som da música; os pares de bailinho eram mais que muitos, dançando ao ritmo de temas populares - daqueles que ouvimos nos bailes da aldeia - mas com pequenos «twists». Foi bom, muito bom, sobretudo devido à entrega fabulosa dos músicos e à relação que conseguiram criar com o público. Confesso que não sou grande fã de temas deste tipo, mas não fiquei indiferente ao espectáculo que ali se deu. 

No final, todos os elementos do grupo fizeram questão de agradecer repetidamente: «vocês são o nosso alimento, são o que nos permite fazer isto».



publicado por Sarah Saint-Maxent às 19:45 | link do post | comentar

Sexta-feira, 05.08.11

«Somos os Magmell, tocamos todas as sextas numa taberna em Lisboa, o Trobadores. Foi assim que, na noite de quinta-feira, os Magmell se apresentaram ao público numeroso que se acotovelava para arranjar espaço para a dança. A estreia neste novo tipo de espectáculo, mais «numa de baile» e não tanto como concerto de bar, não podia ter corrido de melhor forma: aliar boa música, entrega dos músicos ao seu trabalho e boa disposição só pode dar resultado. E notou-se que ali reinavam todos esses aspectos: uma aparente timidez dos elementos do quarteto passou rapidamente a ter um encanto especial, muito atraente. Nem o facto de não se ouvir a apresentação das danças que se seguiam desmoralizou os que preferiram ficar a dançar, em vez de assistir ao concerto que, no Palco Alto, era apresentado por Né Ladeiras.

Um dos momentos mais peculiares teve lugar quando, na apresentação de determinado tema, Pedro Martinho nos informa que há uma dança inventada por um grupo de seguidores do grupo e incentiva todos a observarem as pseudo-gruppies que se encontram junto do palco. Diversão assegurada, com voltas e enlaces constantes, a um ritmo acelerado, que aumentaram as pulsações e mancharam de suor as roupas dos que se aventuraram, nesta noite estranhamente quente.

 

 

 

Algum tempo depois, mudo de poiso e decido ir dar um pulo ao grande nome desta noite - Né Ladeiras é um nome outsider e, provavelmente, pouco apelativo para os participantes do Andanças, já que é muito pouco dançável: dirigi-me, portanto, ao Palco Alto para desfrutar do primeiro concerto de UxuKalhus na edição deste ano.

Devo dizer que não me agradou particularmente o concerto da banda. A direcção que tomaram, e que é natural, de se tornarem cada vez mais um grupo de concertos e menos um grupo de baile deixa-me sempre de pé atrás, e o facto de actuarem no Palco Alto é forte impeditivo à dança. Ainda assim, continua a ser música agradável, naquele estilo de fusão do som actual com o tradicional português: o verdadeiro folk-rock, é certo, numa vertente de espectáculo.

O momento alto da noite, que não posso deixar de referir, foi o convite feito a várias raparigas do Grupo Folclórico de Terras de Arões para subirem ao palco, o que proporcionou um momento musical muito perto do mágico: a forma tradicional de canto do grupo, impossível de descrever, fez-nos entrar num outro mundo, e fez-se silêncio - apenas interrompido pelo som do forró que vinha da tenda 6, vizinha do Palco Alto - para ouvir aquelas vozes tão peculiares. Os arranjos da «xukalhada» foram tremendamente bem conseguidos e permitiram safar a noite. Espero pela noite de sábado, em que se farão ouvir na tenda 3, provavelmente com um alinhamento mais dançável. Se as pernas ainda o permitirem, estarei lá para o Mata-Aranha e a Erva-Cidreira, como em todos os anos.



publicado por Sarah Saint-Maxent às 21:26 | link do post | comentar

Quinta-feira, 04.08.11

A noite de ontem foi, provavelmente, a mais animada que terei todo o festival. O horário - sim, porque por aqui também se trabalha a sério, e não é pouco - permitiu-me aproveitar a noite como não voltarei tão cedo a poder. É verdade, acabei mesmo por chegar à tenda bem depois das 6h da manhã.

Depois do jantar, os Tazzuf abriram hostilidades na tenda 2. Depois do concerto tardio que teve lugar na madrugada de terça para quarta, a expectativa era alta e o grupo catalão não desiludiu: a música tradicional ao vivo tem destas coisas, atrai as gentes e põe o pessoal a dançar. Na «pista», o espaço chegava a faltar nalgumas ocasiões, sobretudo quando surgiam os sons tradicionalmente europeus - lá estão as chapelloises e os círculos a fazer todos saltar para o meio do espaço e começar a contar «um, dois, três, quatro». Os cinco elementos apresentaram-se descontraídos e, aparentemente, felizes. Como não o estar, perante tal recepção dos participantes do festival?

No final, muitos agradecimentos e um desejo: voltar ao Andanças no próximo ano. Por mim, digo «SIM!, venham». Há muito que não ouvia temas de baile tão diferentes, e ainda bem que dei de caras com o grupo.

Seguiu-se o baile de Fol&Ar, na tenda 1. Um concerto muito semelhante ao que nos têm habituado, com os tradicionais bailes portugueses... e outros menos usuais, como o Malhão da Graça que pôs todos a saltar: um, dois, três, salto na esquerda, um, dois, três, salto à direita. O truque é conhecer os monitores de dança e seguir-lhes os passos. Mesmo quem não sabe acaba por se divertir e ninguém se chateia por levar uma pisadela ou duas.

O momento alto do concerto, que achei agradável mas não fascinante, foi a valsa cujos acordes iniciais foram dados pela harpa de Maria Corte: na tenda fez-se silêncio e o som limpo, quase aquoso - eu tenho esta coisa, acho que a harpa, quando bem tocada, tem som de água - ressoou e deu o mote para novos pares se formarem e irem rodopiando pelo espaço. Os joelhos não me permitem aventuras, mas fico constantemente maravilhada quando me sento a observar as gentes que dançam: desconhecidos estendem mãos e, no segundo seguinte, estão juntos e de olhos fechados, seguindo o ritmo da melodia. Quando a música acaba, um sorriso rasgado e um «obrigada» desfazem o momento e voltam a ser dois seres que nem o nome do outro sabem. É uma das belezas do Andanças.

Quando o baile nesta tenda acabou, eram horas de Naragonia - sim, outra vez eles. A tenda 5 estava já repleta de entusiastas, que ocupavam já lugar para dançar os primeiros temas. Um círculo abriu as hostilidades e mostrou o aquele que seria o grande problema do concerto: a falta de espaço para dançar. Encontrões e cotoveladas a cada nova volta, rodas que se faziam e desfaziam, pares trocados a cada entrada de um novo par foram uma constante nos primeiros minutos do baile. Ainda aguentei o suficiente para ver os pares apertados a dançar scottish, mas às tantas nem a excelente música do duo me fez continuar no palco. O que não é um problema neste festival, já que rapidamente se encontra nova tenda com som que nos atraia.

Uma voltinha pelo recinto e a fome aperta, portanto acabo por comer numa das barraquinhas disponíveis. Volto a tempo dos primeiros acordes do baile dos No Mazurka Band, com uma peculiaridade: dos cinco músicos que compõem o grupo, apenas 3 se encontravam presentes. Ricardo Falcão e Diogo Leal chegaram largos minutos depois do baile começar. Apesar disso, e muito no espírito do que é este festival, logo outros músicos presentes deram uma mãozinha nas percussões e deram apoio moral. Não achei particularmente bem conseguido o baile, embora fosse tremendamente divertido. Para tal, muito ajudou ter uma monitora de oficina de danças, Lisou Guerbigny, que explicou passo a passo o que se ia dançar. Ainda assim, faltou qualquer coisa àquele momento.

Chegamos às quatro da manhã e os músicos são obrigados a «fechar a loja»: é necessário desmontar material dos palcos, recolher cabos, amplificadores e microfones. Ficar sem música é que não é opção: rapidamente os membros dos NMB saltam do palco e começam a sessão de improviso, djam, a que se vão juntando muitos outros músicos e entusiastas. O cacifo de instrumentos, ali ao lado, deu jeito para que se fosse buscar o que era necessário: dois ou três acordeões, trompete, mais tambores e gaitas-de-foles, uma bateria... para os que não têm mais nada à mão, uma caneca também serve. Os que restam juntam-se em torno dos tocadores e vão aquecendo a dançar: é o melhor do Andanças. Segundo consta, e como é habitual, a festa durou até às 8h da manhã, quando os voluntários da abertura de palcos expulsaram os resistentes para preparar um novo dia. Se tiver sido como nas duas horas que presenciei, foi uma pena não aguentar mais, mas o dever - e o sono - chamam. Ainda assim, não houve melhor maneira de passar uma noite aqui em Carvalhais.



publicado por Sarah Saint-Maxent às 21:30 | link do post | comentar

No primeiro dia de sol por aqui, aproveito uma sombra para fazer uma pausa - pausa que é, aliás, o tema da edição do festival este ano. Por detrás das tendas montadas, consigo ver encontas de montanha. Ardida, completamente ardida, numa recordação constante do que foi o final do Andanças 2010. O cenário devastado não nos deixa esquecer a evacuação de emergência, o domingo cancelado, o pânico que se sentia enquanto centenas, milhares de participantes arrumavam as suas coisas para deixar o festival. Este ano, a coisa será diferente - a chuva que ameaça cair constantemente afasta pesadelos de incêndio e até dá jeito aos festivaleiros. sim, porque dançar com 400 outras pessoas numa tenda, enquanto temperaturas superiores a 30º se fazem sentir, é duro.

Durante a minha pausa, penso em tudo isto e escrevo. O tempo de repouso chega ao fim, levanto-me e vou ver o que se faz nas paralelas. Parece-me que é workshop de plantas medicinais - o meu próximo destino. O Andanças também é isto.



publicado por Sarah Saint-Maxent às 13:24 | link do post | comentar

Terça-feira, 02.08.11

A igreja encheu-se para um concerto muito esperado pela maioria dos habitués do Andanças: os Naragonia começavam a tocar às 17.30h no espaço, que estava repleto ainda antes dessa hora. Pouco depois de começar, já havia gente sentada no chão e em pé em todos os espaços da igreja. Os voluntários chegaram mesmo a impedir a entrada, depois de a «lotação» ter sido ultrapassada em larga escala.

Apesar de ser música propícia a baile - como resistir a uma mazurka, uma scottish ou uma burreé tocada por eles? - o concerto não ficou nada atrás do esperado. Claro que só o facto de terem tocado Alio, a minha música preferida de quase todos os tempos, me deixou satisfeita, mas não foi só isso. Um alinhamento pensado e com explicações entre os temas - à semelhança do que fizeram, ontem à noite, os Aïlha Mas Trio - fez o público entrar ainda mais no espírito da coisa. A acústica invejável da igreja de Carvalhais fez as delícias de quem ouvia e que, ao ritmo da música, se ia balançando. Ai, se fosse possível ter numa tenda aquela limpidez, aquela qualidade!

As palmas depois de cada novo tema mostraram bem o afecto que estas gentes têm pelo duo: vale a pena esperar dois anos - não marcaram presença no cartaz do ano passado - para voltar a ouvir o acordeão de Pascale...

Amanhã, quarta-feira, dia 3, voltarão a tocar, na tenda 5, à 01.30: depois do espectáculo musical proporcionado hoje, o baile programado promete - nem que seja para matar saudades de dançar uma mazurka de Naragonia. E agora, ala que hoje ainda é dia. Os Scandill vão tocar daqui a pouco e a vontade de dançar abunda nas pernas.



publicado por Sarah Saint-Maxent às 23:02 | link do post | comentar

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